sexta-feira, 1 de abril de 2016

Pedaladas

Março acaba com tantas manifestações contra e pró respeito à Constituição, que desembarcamos em abril ainda em batalha política, cujo desfecho está marcado para maio. Muito se fala contra Dilma Roussef - e não quero questionar a mediocridade de sua atual administração. Mas nunca houve um presidente da República de quem jornalistas e blogueiros tratassem com tanto desprezo. 

Uma mulher nada carismática, Dilma Roussef, tampouco jovem ou bela. Conquistou o poder no voto, duas vezes seguidas. Por mais que se diga que veio nas águas do Lula, alçou ao posto democraticamente. Por que, então, ela suscita tamanho ódio de alguns descerebrados, homens e mulheres que lamentam sua resistência aos maus tratos sofridos quando jovem, presa por atividades contra um governo ditatorial? 

Há quem diga que Dilma só é alvo de tanto achincalhe por ser mulher. Não tenho tanta certeza, porém, nunca antes na história deste País li os jocosos conselhos de um blogueiro a um governante, como aquele que a aconselhou a arranjar um companheiro. Alguém falou isso para Itamar Franco, que não era casado, ao assumir o governo? Se ela tivesse um ou dois namorados, seria chamada de devassa ou vagabunda. 

Essa ar superior, jocoso, masculino me afronta. E Dilma, sem um pingo de simpatia, é uma mulher de fibra porque nunca responde a tais acintes. Ela os ignora. Não chora. Segura a onda. Não fala "Sou mulher, sou avó, sou mãe". Não é doce nem meiga. 

O simples ato de andar de bicicleta pelas ruas de Brasília é apontado como peça de marketing. Li alguém condenando seus exercícios públicos, afirmando que ela deveria fazer natação na piscina do Palácio, como Fernando Henrique Cardoso. Também vejo o ciclismo de Dilma como peça de marketing. Ela alardeia - pela melhora da forma física - o quanto o exercício faz bem a uma pessoa idosa. E ainda ocupa a rua, se apossa do espaço público como qualquer cidadão, numa cidade criada para fomentar a indústria automobilística. (Nelson Mandela caminhava pelas ruas, bem cedinho, também. Acompanhado por um séquito de seguranças, igual à Dilma). 

Por que a boa forma de Dilma não é elogiada? Porque ela tem obrigação de manter uma silhueta esbelta, ora. É mulher. Sarney nunca foi uma sílfide, nem FHC, Lula muito menos. Mas estavam acima de qualquer observação no quesito beleza e elegância. Enquanto correr o processo de impeachment, muito será dito contra a falta de  charme, de habilidade no trato pessoal e da sexualidade da presidente. Contra a honestidade, no entanto, só haverá silêncio. 

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