segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Mais do que um documentário sobre velhinhas maluquetes, Advanced Style fala sobre mulheres que decidiram chegar à velhice sem se render à moda convencional. Extravagantes e glamourosas, elas já estavam na Web no blog de Ari Seth Cohen, que reúne fotos, filmes e entrevistas com essas senhoras de cabelos coloridos, que parecem mais roqueiras do que respeitáveis avós. 
O blog também mostra homens chiquérrimos, mas, convenhamos que para eles é bem mais fácil vestir-se sem transgredir as tradições. Valem algumas olhadas.





 

Sobre maternidade, maturidade e feminismo na rede

Giovanna Dealtry falou no Facebook sobre a maturidade feminina, maternidade e feminismo  nas redes sociais. Com licença dela, segue aqui a pensata.


O feminismo praticado no Facebook ignora mães e mulheres mais velhas. Talvez aceitem - teoricamente, não na prática - as mulheres que assumiram os filhos sozinhas. Espero que isso seja realmente uma "fase" adolescente desse feminismo. Eu nunca vi uma publicação - a não ser as minhas - que fale sobre a mulher pós-menopausa, que fale sobre a solidão da mulher mais velha. 90% do que passa no meu feed se refere a assuntos diretamente ligados às mulheres mais novas, solteiras (hetero ou lésbicas). As mulheres que mais precisam do feminismo são as mães, em especial as que tiveram filhos mais novas e que tiveram pouco educação (e daí justamente um dos motivos porque tiveram filhos mais novas). É como se vocês tivessem desistido de "empoderar" mulheres mais velhas, ou não valesse tanto esforço porque já são umas sectárias. Pois eu garanto que são essas as mulheres mais isoladas, que deixam inclusive de serem vistas como um "objeto" para se tornarem completamente invisíveis. Ninguém fala sobre a vida sexual da mulher mais velha porque nem se "pensa" nesse assunto, inclusive as próprias feministas.
E chegamos a uma maluquice tal que o desejo por ter filhos é imediatamente identificado como uma forma de colonização machista sobre meu eu. Mulheres que decidem não ter filhos não são mais evoluídas que mulheres que decidem ter filhos. Que feminismo é esse que credita todo e qualquer desejo vindo da mulher como um reflexo da sociedade misógina?
E que feminismo é esse que reduz maternidade a trabalho? A incapacidade de subjetivar essas relações que todas tivemos, afinal todo mundo foi filha de alguém, ou é mãe de alguém, é assustadora. Filho não é sinônimo de trabalho. Já ouvi calada argumentos mais variáveis para não se ter filhos: quero minha liberdade, não tenho carro, ai, que saco essa criança chorando. Beleza. E aí uma garota, dentro desse feminismo etarista e child free da rede, praticamente tem que se justificar por desejar ter filhos!
Então, mulheres grávidas, recém-paridas, mães de pequenos e grandes, se quiserem falar comigo sobre suas questões, meu inbox está aberto. Prometo ouvi-las, se isso ajudar.

Pequenos estorvos

O culto à juventude eterna parece criar um novo alvo de desprezo generalizado: as crianças. Já li reclamações  quanto à presença de crianças em pistas de danças nas festas de casamento. Existem adultos em idade reprodutora que declaram seu pavor de petizes. E há quem os tenha para legar seu cuidado a babás de uniformes brancos. Parecido com os aristocratas europeus que entregavam bebês a amas de leite distantes geograficamente das cortes. As crianças só retornavam ao convívio das famílias mais crescidinhas, se sobrevivessem. A historiadora Elizabeth Badinter fala sobre o mito da maternidade apaixonada em Um amor conquistado.

O fenômeno ora observado está restrito às classes mais abastada e cultas, aparentemente. Há feministas reclamando dos olhares tortos que recebem das companheiras de militância se carregam os rebentos aonde vão. Já os mais pobres, costumam misturar filhos com avô, vizinho, irmão, diferentes famílias. E vai levando a vida com mais naturalidade. Uma ex-empregada estranhou o aniversário de um dos meus filhos que só convidava crianças. "Ih, onde eu moro vai todo mundo, até avó de menino convidado. A gente acaba conhecendo mais gente, é animado", me disse ela - e eu morri de inveja.

A rejeição à criança pode chegar a extremos, como o assassinato de uma menininha, há dias, num  subúrbio carioca nesses dias.  Essas histórias de horror continuam acontecendo e estarrecendo a maioria das pessoas. E não são exclusividade da pobreza - é só lembrar do infame casal Nardoni, de São Paulo. Há outras formas de crueldade perpetrada por adultos com mentes doentias. Conheci, há quase trinta anos, uma criança que era deixada, todos os fins de semana, no hotelzinho da creche. TODOS. Jamais permanecia com a mãe ou com o pai, separados. 

A maternidade é física e o propósito da espécie, biologicamente falando. Hoje, temos o direito de escolher se vamos ou não nos perpetuarmos. Sempre houve quem optasse por uma vida sem descendência. Interessante é estarmos sempre disputando um espaço social, como se criar gente ou recolher-se para dedicar-se a outros interesses diplomasse o empenho em se destacar dos demais mortais. Esta semana, assisti a uma cena da finada Mad Men, em que a mulher do protagonista comenta com seu psicanalista o quanto é invejada pelas divorciadas ou solteiras, que não têm famílias felizes. Um pensamento que ficou nos anos 60, talvez. Hoje, a felicidade registrada diariamente nas redes sociais exclui crianças - ou as expõem nos momentos triunfais das festas infantis e reuniões de famílias, ornamentados como os aristocratas do passado. 

Já há tempos a sociedade culta e rica brasileira exclui crianças de diversos espaços e eventos, sempre discretamente. Alguns hotéis não hospedam nem pré-adolescentes. Acabo de saber que uma feira de artesanato proibia a presença de menores de doze anos. Sempre ouvi relatos escandalizados da proibição da entrada de crianças em espaços onde animais podem acomodar-se junto aos donos. Mas a verdade é que criança criança incomoda, faz barulho, chora, pergunta. Cabe aos pais ensinar-lhes o comportamento social, o que, em muitos casos, foi relegado a babás e aos colégios. O isolamento em guetos etários pode gerar cada vez mais estranhamento no convívio social. 

Ah, sim, eu tive quatro filhos sem planejamento formal. Queria ter, tive. Mas defendo apaixonadamente o direito de toda e qualquer pessoa optar por uma vida sem descendentes. Só rejeito essa vontade de enquadrar cada grupo em seu cantinho, como se convivência - barulhenta, intrusiva, incômoda - não fizesse da vida uma aventura bem mais interessante.





sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

No tranco

Faz quase vinte dias que nasceu Helena, minha neta, na Amazônia. Vamos viver distantes, uma da outra, geograficamente, ao menos. E sem Helena ao lado, ficará difícil aprender a ser uma avó do Terceiro Milênio.
Ainda é comum ser avó aos 30 anos. Deixando o asfalto e subindo o morro, há muitas mulheres jovens com netos a cuidar/criar. Talvez elas sejam mais preparadas do que as de classe média para enfrentar o amadurecimento, já que ele chega mais cedo, antes da perda do magnetismo pessoal, que, no Brasil, ocorre por volta da terceira década de vida. Ser avó não está, para essas mulheres, associada à consolidação da velhice. E envelhecer, para as brasileiras, é traumático. Persistimos acreditando em sua inexistência, Lutar contra a natureza virou uma questão de caráter: mulher que não faz ginástica ou plástica só perde socialmente para as gordas. Caso combine sobrepeso com cabelos brancos, flacidez e rugas, estará fadada à condenação até pelos círculos mais íntimos, entre parentes e amigos.
O controle social pela saúde e beleza foi consagrados nos últimos 50 anos e fortalecido, a partir dos anos 1970, pelo culto à juventude. A compensação da decadência física com sabedoria e experiência foi derrubada aos poucos, entronizando-se, definitivamente, com a ascensão da geração Internet. Enquanto Steve Jobs e Bill Gates chegavam à maturidade, surgia Mark Zuckerberg. Dizem que esses homens têm novas formas de fazer negócios - do que duvido muito. Sei que eles se vestem como se estivessem na mesa do café da manhã, mas, fora isso, percebo apenas o tino comercial apuradíssimo, exercido com a mesma avidez que os convencionalmente trajados de terno e gravatas.
E as jovens mulheres que dominariam o universo corporativo, onde estão? Continuam retratadas como pestes em livros/filmes, entre eles O Diabo veste Prada, e ainda não ocupam a maioria dos cargos de chefia. Quando chegam a presidir um país, já têm idade suficiente para serem ridicularizadas pelo desgaste da forma física e falta de sex appeal. Um comentarista de uma revista de circulação nacional sugeriu que a presidente Dilma Roussef arranjasse um companheiro para assistir às telesséries que acompanha. Homens não ouvem esse tipo de gracinha. Homens sozinhos jamais se candidatam a tais cargos.
Então, o que fazem as avós do Terceiro Milênio? Pobres, remediadas ou ricas, são poucas as que têm disposição para se dedicar aos netos. Quase todas ainda exercem atividade profissional intensa e nem podem ajudar os filhos a cuidar dos pequenos. Aprendem a ser avós no tranco, igualzinho como foi o aprendizado da maternidade.
E não é no tranco que a gente vive sempre, armando gambiarras e iluminando os dias?