sábado, 20 de fevereiro de 2016

A arte de amadurecer

Como ser solteira é o primeiro romance da roteirista norte-americana Liz Tucillo. Nele, ela junta a pesquisa jornalística - pra lá de falha - sobre a solteirice feminina mundo afora e cria um relato ficcional sobre mulheres de 38 anos sem um companheiro. Claro que todas são sofisticadas, bem-sucedidas profissionalmente e vivem confortavelmente em Nova York, uma cidade, onde, aparentemente, sobram aventuras amorosas para quem estiver na faixa dos ... 38 anos. Mas elas sabem que envelhecerão e imaginam se devem seguir os relógios biológicos e engravidar aos 43 minutos do segundo tempo. Logo, uma das sábias argumenta: 

"Imagine passar pela menopausa vendo sua filha desabrochando e se tornando sexualmente desejável justo quando você está enrugando e secando e se tornando sexualmente inútil"

O romance é fraco, embora a narrativa demonstre que Liz Tucillo aprendeu todas as técnicas de composição de folhetim, prendendo o leitor pela curiosidade em relação às encalhadas contemporâneas. O que Ms Tucillo talvez não saiba é que mulheres sexualmente bem resolvidas não invejam a maturidade sexual de ninguém, ao contrário. Sentem-se felizes ao perceber que a filha esta pronta para desbravar o mundo. 

Minha resenha sobre o livro saiu hoje na coluna Para Ler na Rede. Vale pensar sobre esta leitura. 




terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Sem perder a ternura jamais.

Eric Hobsbawn falava que a grande revolução do século XX foi a protagonizada pelas mulheres. Em boa parte do Ocidente, claro. Há países onde persistem tradições que relegam as mulheres ao papel de cidadãs de segunda classe.  Em outros, como no nosso, existe uma clara divisão das mulheres entre jovens e maduras. As primeiras são visíveis e audíveis. As segundas, desprezíveis.
Talvez o Terceiro Milênio seja a época de redefinir as limitações impostas às mulheres pelas próprias mulheres. O renascimento da luta feminista ocidental, agora com discussões sobre o abuso masculino – e não propriamente a dominação – trouxe um aspecto aguerrido ao feminismo, tão ou mais agressivo do que o das sufragettes pioneiras ou o do Women’s Lib. E bem mais assertivo do que o alinhavado por Simone de Beauvoir.
Um artigo interessante publicado no site A casa da mãe Joanna fala sobre a rejeição de algumas feministas a depilação e vaidade – e que isso não tem absolutamente nada a ver com a luta por respeito e dignidade. A discussão atual é excludente e restrita a algumas faixas etárias – da adolescência aos 42 anos, talvez. Não se veem feministas de meia-idade se manifestando mais. Lutas antigas, como a amamentação, são deixadas de lado – exceto quando alguma mãe é repreendida por amamentar em público -, até porque a maternidade hoje é tardia. O feminismo guerreiro de hoje excluiu as velhas.
Velhas formas de controle social nem sempre se extinguem. Uma “pesquisa” entre foliões indicou que homens consideram “vadias” a maioria das mulheres que pulam carnaval em blocos cariocas.  Absurdos como esses se fortalecem sempre que delimitamos às mulheres jovens a participação em movimentos ou na diversão coletiva. O papel da mulher madura é apenas o de observação, exceto quando ela vai para a política, concorrendo a cargos eletivos? Eu me recordo das alegres passeatas do Dia da Mulher, com distribuição de flores, crianças no colo das mães ou das avós, celebrações que ficaram distantes nesses tempos severos, sombrios. Nessa vida tão solene, de dentes cerrados e nervos crispados, sobrou pouco espaço para festejar, brincar, comemorar o fato de estarmos de passagem neste planeta. Sem perder a ternura jamais.