Eric Hobsbawn falava que a grande revolução do século XX foi
a protagonizada pelas mulheres. Em boa parte do Ocidente, claro. Há países onde
persistem tradições que relegam as mulheres ao papel de cidadãs de segunda
classe. Em outros, como no nosso, existe
uma clara divisão das mulheres entre jovens e maduras. As primeiras são
visíveis e audíveis. As segundas, desprezíveis.
Talvez o Terceiro Milênio seja a época de redefinir as
limitações impostas às mulheres pelas próprias mulheres. O renascimento da luta
feminista ocidental, agora com discussões sobre o abuso masculino – e não
propriamente a dominação – trouxe um aspecto aguerrido ao feminismo, tão ou
mais agressivo do que o das sufragettes pioneiras ou o do Women’s Lib. E bem
mais assertivo do que o alinhavado por Simone de Beauvoir.
Um artigo interessante publicado no site
A casa da mãe Joanna fala sobre a rejeição de algumas feministas a depilação e vaidade – e que
isso não tem absolutamente nada a ver com a luta por respeito e dignidade. A
discussão atual é excludente e restrita a algumas faixas etárias – da
adolescência aos 42 anos, talvez. Não se veem feministas de meia-idade se
manifestando mais. Lutas antigas, como a amamentação, são deixadas de lado –
exceto quando alguma mãe é repreendida por amamentar em público -, até porque a
maternidade hoje é tardia. O feminismo guerreiro de hoje excluiu as velhas.
Velhas formas de controle social nem sempre se extinguem.
Uma “pesquisa” entre foliões indicou que homens consideram “vadias” a maioria
das mulheres que pulam carnaval em blocos cariocas. Absurdos como esses se fortalecem sempre que
delimitamos às mulheres jovens a participação em movimentos ou na diversão
coletiva. O papel da mulher madura é apenas o de observação, exceto quando ela
vai para a política, concorrendo a cargos eletivos? Eu me recordo das alegres
passeatas do Dia da Mulher, com distribuição de flores, crianças no colo das
mães ou das avós, celebrações que ficaram distantes nesses tempos severos,
sombrios. Nessa vida tão solene, de dentes cerrados e nervos crispados, sobrou
pouco espaço para festejar, brincar, comemorar o fato de estarmos de passagem
neste planeta. Sem perder a ternura jamais.