Tenho a mais absoluta certeza de que existe uma conspiração
misógina contra mulheres acima dos 50 quilos e dos 50 anos. Sempre que vou comprar roupas, xingo todos os
estilistas que odeiam mulheres fora dos padrões definidos como “normais”. Eu me
lembro quando vi uma loja anunciando “tamanhos grandes” a partir do manequim
44. E dez anos antes, 44 estava entre os médios, junto com 42 e 40. Mais
estranho ainda é descobrir que para os criadores do prêt-a-porter no Brasil
existem duas faixas etárias femininas: adolescente e idosa.
Vivemos num país tropical em que o calor incentiva o uso de
pouquíssima roupa. A brasileira da atualidade só não vai de short ao Palácio do
Planalto, mas cria caso até no Fórum para entrar com as pernas de fora. E como
o culto à juventude eterna permite que adolescentes, trintonas e quarentonas se
vistam com o mesmo despudor, nossos estilistas resolveram que mulher pobre
brasileira, se quiser cobrir as pernas será com uma calça “stretch”. Sobrou
para as cinquentonas, que só encontram jeans “skinny”, perfeitos para uma noite
em baile funk.
Além do aperto no jeans mais quente do mundo, que salienta
qualquer marca de celulite e valoriza as gordurinhas, mulheres com que 60
quilos e manequim além do 44 poderão optar por padronagens que privilegiam
florões, muita renda e uns estranhos
buracos nas costas e mangas. Ainda não chegou a idade de usar aqueles vestidos
chemisier de fundo azul marinho ou preto, estampa abstrata ou floral, que
sempre provocam confusão ótica e fazem a roupa parecer sem cor, sem corte, sem
jeito.
Mulher gorda não tem o direito de usar roupa lisa, sem estampa.
Nem de vestir algo discreto. Um franzidinho, um brilhinho e, ó glorioso São
Francisco, uma padronagem animal – zebra, onça ou tigre, de preferência – se
possível, mesclados a alguma flor... está pronta a fantasia para deixar a pobre
obesa mais infeliz ainda- porque NINGUÉM fica bonito com aqueles horrores.
E ainda existem os sapatos. Ou são plataformas para show de
travestis, com saltos bem altos e finos, ou sandálias rasteirinhas. Salto
médio, de quatro centímetros, com um desenho bonito... esqueça. Velhas usam
sandálias pavorosas, estilo Bierstock (pra lá de confortáveis) ou umas
sapatilhas de cores tão encardidas quanto a dos vestidinhos estampadinhos.
Realmente, ficou constrangedor envelhecer no Brasil.
Nem La Deneuve escapa dos estranhos recortes na roupa brilhosinha - e a carteira de oncinha...
E quando a gente fica bem mais velhinha, aí é hora de se vestir igual maluquete mesmo, porque ... quem é que pode criticar?
La Vieira, sempre uma dúvida se está vestindo a personagem ou se é de seu próprio gosto o modelito envergado...