sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

No tranco

Faz quase vinte dias que nasceu Helena, minha neta, na Amazônia. Vamos viver distantes, uma da outra, geograficamente, ao menos. E sem Helena ao lado, ficará difícil aprender a ser uma avó do Terceiro Milênio.
Ainda é comum ser avó aos 30 anos. Deixando o asfalto e subindo o morro, há muitas mulheres jovens com netos a cuidar/criar. Talvez elas sejam mais preparadas do que as de classe média para enfrentar o amadurecimento, já que ele chega mais cedo, antes da perda do magnetismo pessoal, que, no Brasil, ocorre por volta da terceira década de vida. Ser avó não está, para essas mulheres, associada à consolidação da velhice. E envelhecer, para as brasileiras, é traumático. Persistimos acreditando em sua inexistência, Lutar contra a natureza virou uma questão de caráter: mulher que não faz ginástica ou plástica só perde socialmente para as gordas. Caso combine sobrepeso com cabelos brancos, flacidez e rugas, estará fadada à condenação até pelos círculos mais íntimos, entre parentes e amigos.
O controle social pela saúde e beleza foi consagrados nos últimos 50 anos e fortalecido, a partir dos anos 1970, pelo culto à juventude. A compensação da decadência física com sabedoria e experiência foi derrubada aos poucos, entronizando-se, definitivamente, com a ascensão da geração Internet. Enquanto Steve Jobs e Bill Gates chegavam à maturidade, surgia Mark Zuckerberg. Dizem que esses homens têm novas formas de fazer negócios - do que duvido muito. Sei que eles se vestem como se estivessem na mesa do café da manhã, mas, fora isso, percebo apenas o tino comercial apuradíssimo, exercido com a mesma avidez que os convencionalmente trajados de terno e gravatas.
E as jovens mulheres que dominariam o universo corporativo, onde estão? Continuam retratadas como pestes em livros/filmes, entre eles O Diabo veste Prada, e ainda não ocupam a maioria dos cargos de chefia. Quando chegam a presidir um país, já têm idade suficiente para serem ridicularizadas pelo desgaste da forma física e falta de sex appeal. Um comentarista de uma revista de circulação nacional sugeriu que a presidente Dilma Roussef arranjasse um companheiro para assistir às telesséries que acompanha. Homens não ouvem esse tipo de gracinha. Homens sozinhos jamais se candidatam a tais cargos.
Então, o que fazem as avós do Terceiro Milênio? Pobres, remediadas ou ricas, são poucas as que têm disposição para se dedicar aos netos. Quase todas ainda exercem atividade profissional intensa e nem podem ajudar os filhos a cuidar dos pequenos. Aprendem a ser avós no tranco, igualzinho como foi o aprendizado da maternidade.
E não é no tranco que a gente vive sempre, armando gambiarras e iluminando os dias?


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